quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

A vida em fotos...

Olá corajosos,

A vida me emociona o tempo todo! Como é bom olhar para trás e ver o percurso da vida que há em nós, seja ela em suas partes sofridas ou bem vividas. Afinal, tudo é vida e tudo nos forma. 
Estes dias venho experimentando com mais intensidade a vida em fotos. Sempre fui fã de ver fotografias...quanto mais antiga melhor! Já chorei e já sorri ao folear e redescobrir os vários momentos em que vivi ou que as pessoas viveram. E em um intervalo de quase um mês recebi dois presentes com vidas em foto.  É através da fotografia que os instantes deixam se ver como tal. A fotografia é antes de tudo o testemunho. Nela conseguimos agrupar ao mesmo tempo o pensar, o olhar e o coração. Toda vez que contemplo cada foto nunca mais saio a mesma. Uma foto que você compartilha pode ser veículo de esperança, por isso tiro fotos de todas as fases do meu câncer da forma mais nua e crua. 

Em meu primeiro presente recebi um lindo testemunho de sete vidas em torno da minha vida, um testemunho de amizade. Durante meus seis meses de quimioterapia minhas amigas fizeram uma bela homenagem. Visitaram vários lugares que eu estava recomendada a não ir durante o tratamento e alguns deles até mesmo depois. Todavia, mesmo sem ir elas me levaram ao Shopping, pra tomar Sol na praia de peruca, ao Cristo, subiram as escadarias da Penha, pediram a proteção de São Bento... Foram em vários lugares que eu amo e tiraram fotos com mensagens de apoio... fizeram tudo as escondidas (até hoje me pergunto como?) e me deram o resultado no dia do meu aniversário para me lembrar que iríamos fazer tudo isso juntas novamente. Eu choro toda vez que abro o livro com as fotos e as mensagens, pois dali salta um grande laço de amizade, que mesmo unido pelo câncer fala de alegria e fé.


 Fotos: Rodrigo Barbosa

O meu segundo presente foi um álbum que ganhei da Doce Lente, trabalho de fotografia aos olhares da amiga Fernanda França, que desde o início do tratamento a cada 15 dias tirava uma foto a fim de documentar a trajetória do Linfoma de Hodgkin em minha vida. Quando abri me vi no íntimo de mim mesma, do quanto eu caminhei, mudei e lutei. Não foi fácil abrir o álbum! A emoção tomou conta e fui relembrando de tudo o que passei nesta jornada com a minha amiga quimioterapia. Olhando de fora agora e revendo minuciosamente essas imagens vejo o quanto foi pesado, avassalador e leve ao mesmo tempo. Em cada etapa tem um vestígio diferente em si de tudo o que eu passei, abrir foi como reviver tudo em fotos, congelar o tempo e sentir de novo o turbilhão de pensamentos. E eu vivi isso da forma mais natural possível, mesmo com dores terríveis, com tanto inchaço, com os cabelos caindo por toda a parte, sem saber amarrar os lenços direito, sem saber o que seria de mim (e ainda continuo assim), com febres e tremedeiras...com loucuras e enjoos...e olhando pra tudo me pergunto ainda como?  



 Fotografia: Doce Lente





"Eu disse cheese

E de close em close

Fui perdendo a pose
E até sorri, feliz"
Chico buarque


  

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Todo dia 16 é dia: cabelinho Elis Regina.

Morning's Here

The Morning is Here

Sunshine is Here

The Sky is Clear...


É corajosos esse calor do Rio de Janeiro não dá uma trégua... e essa é a melhor fase para ter cabelinhos curtos! Eita coisa boa, eita fresquinho na nuca!
Hoje vim mostrar a evolução desta cabeleira que cresce na velocidade da luz. Como havia combinado, faremos isso por um ano e todo dia 16 é dia! E lá se vão três meses em que raspei a cabeça!

foto do dia em que raspei

poucos dias depois

Foto do mês passado

 Foto de hoje 
                                                                                          

Assim, finalmente adentrei na fase cabelinho de Elis Regina!


 Tô bem fazendo bem essa cara The high society


Olha só

O que está acontecendo?

Meu cabelo deu uma clareada quando nasceu, mas depois de 1 mês após o término da quimio voltou a escurecer um pouco...assim como minhas sobrancelhas e cílios que estão nascendo e escurecendo novamente. Gostei muito da cor que estava nascendo e resolvi clarear um pouquinho o cabelo. 

O que estou fazendo?

Dizem que até a medicação sair do corpo o cabelo ainda dá uma leve caída e foi assim que realmente aconteceu. Alguns cabelinhos teimavam em aparecer espalhados no meu travesseiro. Contudo, não achei que fosse motivo para usar alguns remédios para fortalecer e acelerar o crescimento capilar, como é recomendado para as pacientes pós-quimioterapia. Quero tudo bem natural, até porque, dependendo do organismo, alguns desses remédios podem dar efeitos colaterais e por favor já basta de efeitos colaterais! Vamos ter paciência é o que vivo dizendo pra mim. Então passei a investir em medidas práticas que não interferem em nada, como comprar ampolas de vitamina A da Vitabellu's (o que em um mês deu um resultado fantástico) e colocar no shampoo e condicionador. Comprei também um creme de massagem da L'oreal Elseve para cabelos com queda. Todo dia faço movimentos circulares para estimular a corrente sanguínea. E vou falar, que a queda reduziu pra caramba! E já está bom!


Como vocês podem perceber, também fiz uma arte. Resolvi aproveitar que meu cabelo nasceu mais claro e passei um tonalizante para mudar o visual. Passei o tonalizante da biondina, pois é mais "natural" por conter camomilla e limão e um pouquinho de amônia. Queria mesmo era ter passado o tonalizante Sheer Blonde do John Frieda, mas não achei pra vender. Todavia os dois são bons. Vejo um monte de menina Sol, praia, amor e Joá passando em algumas mechas para dar aquele efeito de ops fui pra praia e o Sol clareou meus cabelos...claro que eu ainda não sei distinguir o que é mecha no meu cabelo e acabou espalhando por todo o couro cabeludo a parecer que passei tintura.

E me despeço com uma música que eu amo na voz da Elis para lembrar os velhos tempos de Karaoquímio.

♪♩♫Valentia, posso emprestar 
Liberdade só posso esperar ♪♩♫

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Sobre o olhar...

 
Olá 2015! Olá galera corajosa!
 
Talvez não seja um assunto muito recorrente nos blogs que falam sobre câncer, mas com toda a certeza é sentido por todos nós, em específico por aqueles que estão atravessando a mesma ventania que a minha. Eu falo do olhar!
 
Sim, falo do olhar...daquele olhar que lançamos no dia a dia para quem quiser ver. Esse olhar que muitas vezes pode ser doce, mas também fatal! Um olhar que pode acalentar, e sério, muitas vezes me acalentou, mas que também pode ser tão cruel e quem o lança muitas vezes nem percebe que pode machucar o outro.
Um olhar é carregado de subjetividades, de pensamentos que voam e descobrem o mundo. Um modo de ver que também exige respostas a todo momento. Eu parei para pensar mais a fundo sobre o olhar depois de vivenciar certos olhares que não eram tão comuns de serem lançados a mim. E parei para analisar também que tipo de olhar venho lançando ao mundo.
 
Durante o meu tratamento, como é sabido perdi meus cabelos e minha aparência mudou completamente, não só pela perda dos cabelos, mas pela quimioterapia em si que nos deixa inchados, com a pele manchada e com os olhos fundos. Eu passei então a sair de lenços pela rua...mas nunca me conformei em adotar aquele tipo de lenço que faz todos notarem a doença de cara, não por que eu quisesse esconde-la. Tentei colocar turbantes e bandanas, a saber mais compatíveis com meu jeito de ser e com minhas roupas. Ao andar pelas ruas, muitos olhares eram doces...havia compaixão em alguns olhares...outros achavam que eu era uma cigana, ou baiana...e olhavam meio torto... sei lá hehe. E outros me olhavam com um certo nojo, por notarem que eu estava doente. Não falo nenhuma irrealidade, aposto que todos vocês talvez já sentiram isso ao longo do tratamento.
 
O tempo foi passando e quando eu me olhava no espelho preferia mais eu ali nua e crua com minha careca do que com os lenços. Eu achava que nenhum deles mais combinava com minhas roupas, já que sou muito de enjoar e quero sempre mudar. Então passei a andar nas ruas careca mesmo...pô faz maior calorão aqui no Rio! Daí os olhares ficaram cada vez mais frios. Para algumas pessoas parecia que eu não pertencia a esse mundo ou que eu estivesse errada por andar assim...embora eu me sentisse radiante. Então senti na pele como é difícil destoar da sociedade em que você vive.
Eu achava bonitinho quando as crianças que me viam pela rua tratavam aquilo que era desconhecido como natural, e ria com outras que ficavam achando super surreal uma moça careca...muitas vezes abaixei para que pudessem tocar, daí passei a ter que abaixar sempre, pois elas gostavam.
Todavia, passei por diversos "mal olhares" e "más atitudes", adultos não são como crianças. Sabe o que é você passar pela rua e quase todos virarem a cabeça que nem a menina do exorcista pra tentar descobrir por que você está saindo careca ou com pouco cabelo sem mais nem menos? Acabei de voltar do almoço e passei por vários olhares assim. Claro que essas atitudes me incomodam, mas também me peguei muitas vezes em pensamento retribuindo aquele mal olhar.. tipo: O que essa pessoa tão feia tá reclamando de mim e me olhando desse jeito...deveria se olhar no espelho! Ou: Nossa como essa pessoa está mal vestida e por que está olhando tão feio pra mim? Graças a Deus essa minha forma de protesto ou defesa só ficava em meus pensamentos mesmo...ou no máximo comentava para meu esposo. As vezes quando "dá no saco" meu olhar perpetua também esses olhares maldosos. Eu ficava/fico mais chateada ainda quando saio com alguma amiga, ou minha irmã ou mãe e ficam insinuando que sou homossexual...não tenho nada contra os homossexuais...mas cara minha identidade não é essa! Onde foi que minha identidade se escondeu...que motivos estou dando para essa pessoa que me olha insinuar que estou fazendo maldade e mesmo que eu fosse homossexual?  É triste ver como você é destratada pela sua aparência.
Já ouvi muito ao passar por aí...uma garota tão linda, como pode fazer isso com o cabelo! Ou baixinho, mas para que eu pudesse ouvir...nossa que escrota! Ou comentando com alguém, não olha agora não...mas aquela garota...ou quando me aproximo: Nossa já vi tudo! Muitas vezes fazem na sua cara mesmo, apontam e começam a rir e olhando nos seus olhos... Poxa sem nem saber o motivo!
 
Em algumas ocasiões tenho vontade de gritar... Não sou louca...ou muito menos fã da Miley Cyrus...Eu tive câncer porra e vou muito bem obrigada! Tenho vontade de desconcertar esses olhares. Nunca fiz! OBS: sempre uso porra como exclamação em meus pensamentos! E olha só eu falando no passado...ainda não fiz os exames talvez ainda tenha o tal câncer! É bom falar no passado!
 
Apesar de tudo, não estou mudando meu jeito de ser por causa das pessoas e há tantas outras que estão preferindo muito mais esse meu "novo" visual forçado pelas circunstâncias...eu mesma estou adorando brincar com esse novo jeito de ser. Um dia estou mais hip hop, em outros qualquer acessório me faz parecer roqueira, se eu ponho branco mando logo um saravá pra quem passa por mim olhando torto kkk (mentira)...em outros dias me sinto a Elis Regina...em mais alguns dias a Audrey Hepburn, ou a Mia Farrow em bebê de Rosemery ...e todos esses jeitos revelam meu eu. E gosto muito dele seja como for!
Não temos como mudar certos olhares, mas temos como nos controlar e transmitir para eles algo muito melhor...muito mais doce...talvez é desse modo que possamos desconcerta-los e acerta-los!
Estou aprendendo!